Sempre que eu ia na casa a minha avó com a minha mãe era um problema.
Minha mãe brigava, lá mesmo, com quem estivesse em casa porque vovó estava mal cuidada, sempre fazendo comida, ou limpando a casa, ou estendendo roupa no varal, que todos a faziam de empregada, aproveitando-se da boa vontade dela, que ela não tinha mais obrigação para com os filhos dos outros, que a casa estava uma bagunça, que ninguém ajudava, que minha avó não se dava ao respeito, blá-blá-blá. Pegava a vassoura, varria, ajudava de alguma forma. Saía de lá com estômago doendo, a cabeça explodindo, de mal humor e dizendo que não voltava mais.
Muito bem, o tempo passou...
Agora eu chego na minha mãe e encontro a frente da casa cheia de xixi de cachorro, a geladeira não funciona e tudo que há dentro vai se estragar (há semanas ela tenta convencer o papai de que preciso comprar uma nova), as infiltrações tomaram conta da casa, estão em quase todos os cômodos, inclusive no quarto dela, o carro dela tem problemas no ar condicionado, mas não há quem se interesse em levar pra concertar, ela diz que é refém do "inominável" (hahahaha, é como diz a narradora de Milton Hatoum), porque quando contrariado ele se vinga duramente e aí, não só não ajuda, como atrapalha.
Ajudei-a a lavar a frente da casa, carregando o balde com água (e ela me dizendo que tem que fazer isso quase todo dia, porque não há quem saia com os cachorros, e eu pensando, um dia ela vai estar sozinha, escorregar, cair se quebrar toda e não vai mais andar).
Minha mãe é uma médica muito competente. Poderia ser diretora de qualquer hospital dessa província, ou quem sabe, poderia ter sido Secretária de Saúde, sim, por que não?
Aí, é quando a porca torce o rabo: como eu saio de lá? Tremendo de raiva, a ponto de chorar? Ou entendo que essa situação absurda envolve falhas de caráter dos outros e escolhas dela própria? Sabe, o generoso e o egoísta do Gikovate?Afinal, diferentemente de minha avó, ela não é nenhuma velhinha indefesa. Nesse caso, tento aceitar o que vi e ouvi e sair tranqüila (incólume é impossível). Em qualquer caso, é preciso ter nervos de aço. Imaginem quando ela ficar idosa... Ai, Jesus!
Mas eu vou me esforçar pra não me pegar repetindo o texto dela, na cena que era dela, na casa da minha avó, porque não quero esse mal estar pra mim. Há dia em que consigo, dia não.
Ah, essa vida... sempre exigindo mais da gente.
2 comentários:
Meu amor, infelizmente essas pessoas citadas no post encaminharam suas vidas de uma forma que, a elas, só basta encontrar algo de bom no caos que vivem. No final das contas, todos nós procuramos "algo de bom"nas situações que nós mesmos criamos, seja aceitando o que os outros fazem conosco, ou ainda, não nos esforçando suficientemente ao ponto de sermos independentes do outro, do dinheiro do outro, do status do outro, enfim... desse outro que já está atolado, encharcado, viciado no próprio egoísmo. Minha oração, e minha ação, é que nós dois possamos construir algo diferente de tudo isso por você narrado. Para isso, temos que regar todas as plantas do nosso quintal, para que ele não tenha apenas plantas belas, mas sem serventia alguma, ou plantas caras, que nos trazem status mas podem também ser parasitas ferozes. Nessa brincadeira, todas estas plantas continuarão existindo, mas, de forma equilibrada, para que no meio dos espinhos, tenhamos também o fragrância das flores e a fartura dos frutos. Nós somos os jardineiros. Te amo. CJC.
Hein?
kkkkkkkkkkkkkkkkk!
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