sábado, outubro 29, 2005

Manaus, 336 anos.

Essa semana Manaus completou 336 anos. Muitos foram os festejos para marcar a data. A cidade cresce aceleradamente. Cresce, mas continua provinciana em muitos aspectos. Um deles: a falta de mão de obra especializada... pra tudo, quase tudo.

O comércio de serviços, mais especificamente sofre as consequências dessa trágica realidade. Costureiras que não sabem costurar. Cabelereiros que não sabem cortar cabelos. Manicures que não sabem fazer unhas, e nem mesmo têm noçoes de higiene. Cantinas italianas que não sabem fazer massa. E assim por diante... Poderíamos listar centenas de dezenas de atividades muito mal desempenhadas. É ineficiente, é irritante e acaba saindo caro.

Buscando compreender as razões do quadro que se apresenta, encontramos uma Educação Básica pública de baixíssima qualidade somada à falta de formação continuada. As escolas em sua grande maioria funcionam em prédio alugados, sem infra-estrutura, e com horários reduzidos devido ao turno intermediário. Por sua vez, o mercado dos cursos de formação técnica e continuada, à exceção do SENAC, é dominado por instituições irregulares, operando em condições precárias, verdadeiras fraudes. Podemos ainda acrescentar a distância em relação a outros centros de formação, o que reduz, e por vezes aniquila, as possibilidades de intercâmbio de experiências. Apesar de tudo, o manaura batalha pra sobreviver, e trabalha duro, como sabe, do jeito que pode.

Feliz aniversário, Manaus. Dias melhores ao teu povo!

sábado, outubro 22, 2005

Esquizofrenia Moderna


Sexta à noite, mudando de canal, encontrei, na TV Cultura, uma entrevista com o psicoterapeuta Flávio Gikovate no programa Conexão Roberto D’Avila. Entre outras coisas, gostei do que ele disse a respeito da obesidade relacionada aos nossos padrões de beleza.

A sociedade é, mesmo, meio esquizofrênica. Criamos todos os mecanismos para reduzir o nosso esforço físico a zero. Se não bastasse a TV, não precisamos mais nos mexer do lugar nem para trocar o canal, usamos o controle remoto. Não bastasse o carro, que nos poupa o esforço de caminhar, não precisamos mais nos movimentar para baixar o vidro, basta um toque num botão, e uma série de outras coisas... Aí, dizemos que quem está acima do peso não vale nada! E nesse contexto só uma minoria vai conseguir manter-se esquálida, segundo os padrões impostos. A maioria fica entregue ao sofrimento.

E quando perguntado: “ – A Depressão é uma doença?” Ele respondeu: “A depressão é uma encrenca. (...) É impossível não sentir-se deprimido num mundo onde todo mundo tem que ser bonito, rico e feliz.”

Sexta que vem a entrevista continua, sobre outros temas... Vale à pena. Não é pra concordar com tudo, mas pra pensar um pouco.

Tem coisa boa na Cultura. Sábado à noite tem Senta Que Lá Vem Comédia.

Chato é o horário de verão.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Referendo (Parte II)


O primeiro referendo da história do país representa um avanço na democracia brasileira, na medida em que a população se pronunciará diretamente sobre o tema em questão. Esse momento de expressão e afirmação da vontade popular é importante no processo de ampliação da democracia direta, com mais participação do povo, que hoje se encontra no papel de coadjuvante num cenário político dominado por seus representantes, os quais por sua vez, distanciados do povo, esmeram-se na defesa de interesses próprios, alheios à vontade popular.

O referendo tem sua importância, sim, mas não para a causa da redução da violência no país. No Brasil, a violência urbana é um fenômeno com raízes históricas na dramática desigualdade social alimentada pela péssima distribuição de renda, somada à corrupção, e à precariedade na Educação, juntos, esses elementos têem se mostrado mais do que suficientes para formar o caldo de cultura ideal para a proliferação do crime e da barbárie.

Assistindo às campanhas desenvolvidas pelas frentes parlamentares do SIM e do NÃO, observamos facilmente a repetição dos mesmos erros cometidos nas campanhas eleitorais. Muito marketing, muito efeito, muita intriga e pouco argumento, pouca informação. Os artifícios empregados pelo “pessoal do não” e pelo “pessoal do sim” desviam a atenção de um debate sério e esclarecedor a cerca dos prós e contras da proibição ou não do comércio de armas e munição e seus reflexos no cotidiano da população.

Naturalmente que o bom senso nos leva à opção pelo sim, pela proibição ao comércio de armas e munição no Brasil, mais benéfica, pela possibilidade de poupar algumas vidas.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Estatuto do Desarmamento. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/seguranca/desarmamento.htm> Acesso: 12 de outubro de 2005.

ATHAYDE, Phydia de. Bem longe do alvo. Carta Capital. Ano XII, n°364, p.26-30, 2005.

LOBO, Flávio. Mais povo na política. Carta Capital. Carta Capital. Ano XII, n°364, p.31-32, 2005.

Referendo (Parte I)

O referendo é uma ferramenta constitucional de exercício da soberania popular (CF, artigo 14, II), por meio da qual os cidadãos são consultados sobre uma lei já aprovada, decidindo se ratificam ou rejeitam a nova norma. Ele é convocado por meio de decreto, com a aprovação de, no mínimo, um terço dos membros da Câmara ou do Senado.

A Lei n° 10.826 de 22 de dezembro de 2003, conhecida como o Estatuto do Desarmamento, dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define crimes e dá outras providências.

A lei foi sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 22 de dezembro de 2003, e publicada no Diário Oficial da União no dia 23 de dezembro de 2003, quando passou a viger em todo o território nacional.

O decreto que a regulamentou, n°5.123 de 01/07/2004, foi publicado no Diário Oficial da União no dia 02 de julho de 2004, começando a vigorar naquela data.

No dia 23 de outubro, os brasileiros terão de ir às urnas para se manifestar sobre um dos trinta e sete artigos da Lei, o artigo 35, que dispõe:

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei.

§ 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005.

§ 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Mais de 122 milhões de eleitores deverão responder "sim" ou "não" à pergunta: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?".

O referendo foi aprovado pela Câmara no dia 6 de julho deste ano, depois de tramitar no Congresso por mais de um ano.

Foram formadas duas frentes parlamentares para a campanha que antecede o referendo. A Frente Parlamentar Brasil Sem Armas, a favor da proibição do comércio de armas - presididia pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) -, e a Frente Parlamentar Pró-Legítima Defesa, contrária à nova norma, presidida pelo deputado Alberto Fraga (PFL-DF). De 1º até 20 de outubro, as duas frentes terão direito a propaganda gratuita no rádio e na televisão. De acordo com resolução do TSE, cada uma pode usar 10 minutos diários no rádio e outros 10 minutos na TV, nos seguintes horários: das 7h às 7h10 e das 12h às 12h10 (no rádio); das 13h às 13h10 e das 20h30 às 20h40 (na televisão).