sábado, março 29, 2008

Conto-do-vigário

Segunda-feira (promoção: ingressos a R$5,00) assistimos a Sangue Negro (There will be blood, 2007).
A estória se passa entre os últimos anos do século XIX e início do século XX, durante a explosão do petróleo na Califórnia, com Daniel Day-Lewis vivendo Daniel Plainview, que se transforma de um esforçado minerador de prata desesperado em prospector de petróleo e, mais tarde, em magnata do petróleo. Empreendedor ambicioso, Plainview realiza o sonho americano, mas termina alcoólatra, atormentado e sozinho. Um homem que tem tudo e ao mesmo tempo não tem nada. Como pano de fundo, o drama das condições sub-humanas a que estavam submetidos os trabalhadores na escavação dos poços de petróleo. Não faltam vítimas.
Fiquei com essa temática na cabeça...

Na quinta-feira houve um acidente na obra de construção do Manauara Shopping quando um barranco cedeu. Um operário de 24 anos morreu soterrado, outro fraturou a bacia e o fêmur e outros ficaram feridos. Os companheiros que os socorreram denunciam a pressão para o cumprimento dos prazos, a despeito das chuvas que dificultam as condições, e a falta de respeito no tratamento que recebem. A obra teve um progresso relâmpago, apesar do rigoroso inverno que atravessamos. No dia seguinte haveria trabalho normal, mas logo no início da manhã os trabalhadores, em protesto por melhores condições de trabalho, recusaram-se a trabalhar. Agora o Ministério Público do Trabalho está fiscalizando a obra.

Hoje, nossa faxineira me disse que na fábrica de motos onde ela trabalha, no turno noturno, os trabalhadores têm sido submetidos constantemente a jornadas de 14 (Catorze!!!) horas. Normalmente, o turno dela inicia-se às 17:00, após um lanche. O jantar é servido às 21:00, e ela sai do trabalho às 02:15. Porém, nas últimas semanas tem acontecido constantemente o seguinte: o turno começa às 17:00, e depois que eles já estão trabalhando são informado que o lanche será às 21:00. Nesse momento eles já percebem que vão ficar até mais tarde. O jantar é servido 24:00 e o trabalho segue até 07:00. Por causa disso, muitas colegas passam mal, chegando a desmaiar, sendo encaminhadas ao pronto-socorro mais próximo. Todos os que faltam ao trabalho são demitidos, incontinenti, e substituídos. A fábrica fica na entrada de uma bairro muito pobre e muito populoso.

Síntese: No século XXI o Capitalismo continua o mesmo, implacável, como sempre, irremediavelmente cruel e desumano. Um conto-do-vigário.

E os homens seguem portadores do mesmo vazio...

domingo, março 23, 2008

Cristo vive! Aleluia!

Amo esse poeminha há muito tempo. Lembro-me de havê-lo copiado em algum pequeno caderno, ainda na adolescência. Ele sempre me vem à mente. Tem tudo a ver com esses dias de páscoa.

Eu sei que meu redentor vive (Gióia Júnior)
Onde estou? eu não sei -
e nem sei onde estive
e nem onde estarei -
mas eu sei que Ele vive!


E como sei que vive
o meu Senhor e Rei,
sei que com Ele estive
e com Ele estarei!


Se há razão que motive
a paz, eis sua lei:
o meu Redentor vive
e eu também viverei!

terça-feira, março 18, 2008

Déjà Vu

Sempre que eu ia na casa a minha avó com a minha mãe era um problema.
Minha mãe brigava, lá mesmo, com quem estivesse em casa porque vovó estava mal cuidada, sempre fazendo comida, ou limpando a casa, ou estendendo roupa no varal, que todos a faziam de empregada, aproveitando-se da boa vontade dela, que ela não tinha mais obrigação para com os filhos dos outros, que a casa estava uma bagunça, que ninguém ajudava, que minha avó não se dava ao respeito, blá-blá-blá. Pegava a vassoura, varria, ajudava de alguma forma. Saía de lá com estômago doendo, a cabeça explodindo, de mal humor e dizendo que não voltava mais.
Muito bem, o tempo passou...
Agora eu chego na minha mãe e encontro a frente da casa cheia de xixi de cachorro, a geladeira não funciona e tudo que há dentro vai se estragar (há semanas ela tenta convencer o papai de que preciso comprar uma nova), as infiltrações tomaram conta da casa, estão em quase todos os cômodos, inclusive no quarto dela, o carro dela tem problemas no ar condicionado, mas não há quem se interesse em levar pra concertar, ela diz que é refém do "inominável" (hahahaha, é como diz a narradora de Milton Hatoum), porque quando contrariado ele se vinga duramente e aí, não só não ajuda, como atrapalha.
Ajudei-a a lavar a frente da casa, carregando o balde com água (e ela me dizendo que tem que fazer isso quase todo dia, porque não há quem saia com os cachorros, e eu pensando, um dia ela vai estar sozinha, escorregar, cair se quebrar toda e não vai mais andar).
Minha mãe é uma médica muito competente. Poderia ser diretora de qualquer hospital dessa província, ou quem sabe, poderia ter sido Secretária de Saúde, sim, por que não?
Aí, é quando a porca torce o rabo: como eu saio de lá? Tremendo de raiva, a ponto de chorar? Ou entendo que essa situação absurda envolve falhas de caráter dos outros e escolhas dela própria? Sabe, o generoso e o egoísta do Gikovate?Afinal, diferentemente de minha avó, ela não é nenhuma velhinha indefesa. Nesse caso, tento aceitar o que vi e ouvi e sair tranqüila (incólume é impossível). Em qualquer caso, é preciso ter nervos de aço. Imaginem quando ela ficar idosa... Ai, Jesus!
Mas eu vou me esforçar pra não me pegar repetindo o texto dela, na cena que era dela, na casa da minha avó, porque não quero esse mal estar pra mim. Há dia em que consigo, dia não.
Ah, essa vida... sempre exigindo mais da gente.

domingo, março 09, 2008

Eu sei, mas sei mais do que muita gente, do que a VAIDADE é capaz. Ô, se sei.