Se você assite à tv, durante o carnaval, vai acabar apreciando a beleza e a alegria contagiante que parece invadir as ruas das cidades. Mas, a festa esconde contrastes que merecem reflexão.
Podemos tomar como exemplo o Carnaval de Salvador. Transmitida ao vivo, a festa cresce ano a ano, atraindo milhares de brincantes de todo o país. Os mais desatentos correm o risco de acreditar que tudo é festa, alegria, glamour e harmonia, exatamente como a mídia vende. Mas, por meio de amigos que moram em Salvador, descobri que a coisa não é bem o que parece. Há muita violência, e a discriminação de classe é marcante. Quem tem dinheiro, compra o abadá, a camiseta que dá direito a seguir o trio elétrico cercado por uma corda, com segurança e serviço de bar. Quem não tem, expreme-se do lado de fora da corda, correndo sérios riscos de sofrer alguma agressão. Em outras palavras, a festa dita "do povo" está dividida entre ricos e pobres, um retrato da desigualdade social brasileira.
Leia matéria disponibilizada no site estadão.com.br:
26 de fevereiro de 2006 - 12:00
Violência nos trios incomoda Daniela Mercury e Carlinhos Brown
Agressividade, dirigida especialmente contra mulheres, está se tornando uma marca desse carnaval
Jotabê Medeiros
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Esse fato ficou evidenciado durante a passagem dos trios elétricos no sábado. Daniela Mercury, em cima do camarote Expresso 2222, parou seu show para que a polícia e os paramédicos pudessem prestar socorro a um garoto, agredido a socos, que ficou caído à frente do trio elétrico.
“Em 20 anos de Carnaval, isso nunca aconteceu”, lamentou a cantora, aplaudida pelo seu gesto. O rapaz, que bateu a cabeça no chão, foi atendido e levado ao pronto-socorro e o agressor foi preso.
A agressividade, dirigida especialmente contra mulheres, está se tornando uma marca desse carnaval. Os homens brigam constantemente, puxam o cabelo das mulheres e alguns tentam beijá-las à força.
“É preciso acabar com esse apartheid escroto”, discursou Carlinhos Brown ontem, no ato mais político até agora do carnaval. Ele também parou seu show para pedir providências às autoridades contra os excessos violentos dos foliões.
Brown referia-se às diversas “cercas de proteção” que cercam os ricos e excluem da festa aqueles que a criaram, o povo. Apesar do policiamento adequado e que age com rapidez, é difícil coibir a ação de gente que parece ter ido à festa só para arrumar confusão.
O carnaval de Salvador parece ter dividido a festa em classes sociais: os de dentro e os de fora. Os bacanas estão em camarotes com ar-condicionado, comida e bebida, massagistas, cabeleireiros e até salas de cinema, caso do camarote de Daniela Mercury. As TVs ficam nesses camarotes, para entrar ao vivo com as cenas do beautiful people, como dizia o colunista Ibrahim Sued.
Mas, lá embaixo, a coisa está complicada. Um fotógrafo profissional conta que foi agarrado e esmurrado por três ou quatro sujeitos que tentavam lhe tirar a máquina à força. Não sabe até agora como escapou.
Fonte:http://www.estadao.com.br/ultimas/cidades/carnaval2006/noticias/2006/fev/26/47.htm